‘Infiltrado na Klan’ discute sobre racismo e a ascensão da supremacia branca

By Isabella Jarrusso - quarta-feira, fevereiro 13, 2019


Com humor crítico  faz um paralelo do momento politico atual com a história real do policial negro que se infiltrou em um grupo da Ku Klax Klan nos anos 70


Por Isabella Jarrusso


Contém Spoilers


O diretor Spike Lee volta com seu novo filme Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, 2018), que já está sendo considerado o melhor de sua carreira. Uma história real que é tão absurda que parece ficção, e para isso, Spike Lee monta um filme carregado de humor crítico e abre uma discussão sobre preconceito racial e o retrocesso que o mundo está vivendo.


Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco Flip Zimmerman (Adam Driver) no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

A narrativa é construída de forma descontraída, mas muito didática. Com o estilo bem Spike Lee, o filme trata um tema pesado com humor ao mostrar como o Jon tira sarro da forma como os racistas agem e falam, algo que faz o espectador rir junto. Ao mesmo tempo, o diretor consegue fazer uma reflexão no público sobre tudo ser uma realidade.


O filme homenageia o Blaxploitation, movimento de cinematográfico dos anos 1970 que tirou os negros dos papéis coadjuvantes e estereotipados, dando espaço para uma figura de herói da história.  O gênero nasceu com a força do movimento negro nos EUA que começou nos anos 60. E em Infiltrado na Klan vemos a estética da fotografia, humor e estilo dos personagens serem uma clara referência ao estilo.


Spike Lee sempre procura colocar o protagonismo negro em seus filmes, principalmente trabalhando com histórias reais, como seu clássico longa-metragem  sobre o ativista afro-americano Malcolm X (1992). Lee não perdeu  o seu estilo de narrativa, a única diferença é que o seu novo filme carrega um abordagem bem mais lapidada sobre o tema.
O longa também aborda sobre a vivência das minorias, criando uma nova perspectiva da temática. Um exemplo é o personagem Flip, um homem branco que nunca sofreu preconceitos, mas depois de se infiltrar como um membro da Klan e escutar diversos discursos contra os judeus, resgata a sua origem judia e cria uma nova visão sobre o preconceito. Pode-se analisar uma crítica do diretor sobre a falta de empatia, que muitas vezes só acontece quando uma pessoa sente na pele o que é opressão.


Spike Lee faz um paralelo com a realidade contemporânea. Mostra como o ser humano não desenvolveu, que continuamos vivendo em um mundo preconceituoso e violento. Um dos pontos que ele faz esse paralelo é a informação falsa que dissemina nesses grupos, como por exemplo, quando falam que o holocausto nunca aconteceu. Um discurso bem atual de negar a história para defender seus ideais, hoje conhecido como as fakes news.


O filme termina com uma virada no tempo, somos levados para a nossa realidade com cenas reais do conflito de Charlottesville nos EUA em 2017, onde vemos neo-nazistas gritando contra negros, judeus e imigrantes, mostrando as mortes que essa marcha causou. Spike Lee deixa uma crítica clara para o presidente Donald Trump, que incita o preconceito e que não se opôs a esse tipo de manifestação, que feriu e matou gravemente os direitos humanos.


Depois de todo o humor inteligente e ácido, o final do filme leva o espectador para uma reflexão profunda  sobre o ódio e preconceito que só crescem no mundo. Mostra que tudo no filme que parece um absurdo para ser real é comprovado com as cenas chocantes do nosso tempo, e como os discursos de ódio só vem ganhando mais espaço.

Infiltrado na Klan está indicado em 6 categorias no Oscar 2019, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção.


Nota:

Excelente!

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