Ilha de Cachorros: Uma metáfora sociopolítica

By Isabella Jarrusso - quinta-feira, setembro 13, 2018




Por Isabella Jarrusso

Contém Spoilers

Wes Anderson retorna  com sua segunda animação Ilha de Cachorros (2018), carregando o seu estilo cinematográfico como a fotografia simétrica, personagens excêntricos, humor peculiar e os movimentos de câmeras rápidos e planos detalhes e de closes nos personagens. Seguindo o padrão de desenho em stop motion como a sua primeira animação, O Fantástico Sr. Raposo (2009).

Na trama, Atari Kobayashi (Koyu Rankin), um garoto japonês de 12 anos, que mora na cidade fictícia Megasaki, sob tutela de seu tio Kobayashi (Kunichi Nomura), que é um prefeito corrupto. Seu tio aprova uma nova lei que proíbe os cachorros da cidade, por causa de uma epidemia de gripe canina. Os animais são exilados em uma ilha vizinha, que na realidade seria um lixão da cidade. Mas Atari não aceita a lei que o separou de seu cachorro Spots (Liev Schreiber), e decide fugir para a Ilha e procurá-lo.

Na Ilha, acompanhamos o cotidiano de uma matilha de cachorros tentando sobreviver: Chief (Bryan Cranston), Rex (Edward Norton), King (Bob Balaban), Boss (Bill Murray) e Duke (Jeff Goldblum), que irão ajudar Atari a encontrar seu cachorro.

O diretor conseguiu reunir um elenco de primeira, sem contar que também tem participação de mulheres incríveis como Tilda Switon (Oracle), Scarlett Johansson (Nutmeg), Greta Gerwig (a ativista Tracy Walker) e Yoko Ono (uma cientista que também leva o seu nome).

O interessante de analisar o cinema de Wes Anderson é a capacidade de continuar o seu estilo independente da forma de gravação, seja com atores ou bonecos, a essência do cineasta é prevalecida. Mas uma das referências desse filme é a homenagem a grandes artistas da animação japonesa, como o cineasta e animador Hayao Miyazaki, e o mangaká Osamu Tezuka.


A forma de narrativa do filme é o humor excêntrico e diálogos cheio de sacadas. Os personagens humanos falam japonês e o espectador é avisado que apenas algumas coisas serão legendadas ou narradas, já os cachorros falam inglês mesmo, o que serviu de humor para a pouca compreensão entre os cachorros protagonistas e Atari.

A temática do filme é a mistura de um Japão futurístico, a cibertecnologia, mas que carrega uma atmosfera de guerra. A criação dos cachorros robôs para uso doméstico, e secretamente, usados como armas militares é a melhor definição que a animação transmite. Além do roteiro recheado de críticas sociopolíticas como xenofobia, corrupção, militarização e censura.

Ilha de Cachorros é uma metáfora politica, várias cenas do enredo pode-se analisar como um regime nazifascista. A estratégia política é muito forte, os discursos do prefeito Kobayashi são um ótimo exemplo de manipulação,principalmente, quando ele pede “respeito” do público quando a oposição protesta contra as suas leis. A própria Ilha, lembra um campo de concentração para raças que se tornaram inferiores. Até entre os cachorros vemos cometários xenofóbicos quando os cachorros de raça falam de Chief ser um vira-lata. 

A censura é outro ponto importante, e para isso, separo dois momentos emblemáticos: A primeira, quando o prefeito veta a descoberta da cura pelo cientista Watanabe (Kunichi Nomura), que é preso e morto pelos policiais, mas na mídia a causa morte é dita como suicídio. O que lembra um dos casos mais famosos da ditadura militar brasileira, o “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog. O segundo, a militância contra o governo opressor, que começa quando Atari se rebelar contra a lei e se torna um símbolo ideológico, que inspirou a jovem estudante de intercâmbio, Tracy a lutar junto com outros estudantes para derrubar os planos do genocídio dos cães.


Além do discurso politico, a animação também foca nas relações de perdas e afeto. Atari tenta passar a imagem de durão depois de perder sua família, o mesmo acontece com o único vira-lata do grupo, Chief que durante grande parte do filme odeia os humanos, diferente dos seus amigos que são todos cães de raça que sentem falta de ter um dono.

Wes Anderson constrói como narrativa principal, a perspectiva dos cachorros sobre o mundo, principalmente os diálogos entre eles sobre os seus valores. É uma mistura genial entre o fantasioso e a realidade.

Nota:



Excelente!

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