A Forma da Água: A fábula de Del Toro que carrega a fantasia e críticas sociais
By Isabella Jarrusso - quinta-feira, março 01, 2018
Por Isabella
Jarrusso
Contém Spoilers
O
diretor mexicano Guilhermo Del Toro apresenta novamente a sua marca registrada
em A Forma da Água (Shape Of Water, 2018): a criação de uma fábula. Ele mistura
o lado fictício ao apresentar um romance entre humana e uma criatura aquática e o não fictício quando
aborda sobre intolerância racial, sexual e de gênero. O longa-metragem recebeu 13
indicações ao Oscar 2018, incluindo Melhor Filme.
A
Forma da Água acontece durante o fervor da guerra fria, e conta a história de Elisa (Sally
Hawkins), muda por conta de um ferimento que sofreu na infância em suas cordas
vocais, trabalha na área de limpeza de um laboratório experimental secreto do
governo dos Estados Unidos, e acaba conhecendo uma estranha criatura (Doug Jones) trazida da América
do Sul pelo ríspido agente Richard Strickland (Michael Shannon), que é mantida presa no local. Elisa
começa a ir escondida no laboratório para conhecer mais a criatura, trazendo ovos
cozidos, jogos e criando uma comunicação entre os dois, e nisso acaba nascendo
um amor entre os dois.
Elisa
e a criatura protagonizam um romance estilo A Bela e a Fera, mas de uma forma
menos tradicional, a fera não precisa se transformar em um príncipe para encantar
a sua amada e a princesa não tem aquela a imagem tradicional. A trama principal
é salva-lo da prisão e de Strickland, que se o agride e pretende matá-lo.
Del
Toro aprecia misturar a fantasia com a realidade humana. Um grande exemplo é o seu
outro ótimo filme “Labirinto do Fauno” (2006), que mistura um reino mágico com
o nosso mundo como a realidade sombria.
A
Forma da Água tem uma construção narrativa com mais humor e crítica, o diretor teve
a parceria da roteirista Vanessa Taylor na criação da história. No filme sente-se
a quebra de tensão com um humor feito na medida certa, principalmente com os
personagens Giles (Richard Jenkins), o seu vizinho ilustrador que ama filmes com
musas antigas, e Zelda (Octavia Spencer), sua amiga falante e colega de limpeza
do laboratório, que a protege e muitas vezes é a sua “voz”.
É
interessante observar que os principais personagens pertencem a grupos de
minorias. Começando pela protagonista Elisa que é uma mulher e tem a deficiência
da fala, Giles por ser um homem gay de meia-idade e Zelda por ser uma mulher
negra. Além da minoria ser o destaque, o filme aborda momentos de criticas
sociais com cada personagem: Elisa sofre assédio sexual, Giles sofre homofobia
e Zelda o racismo. O preconceito escancarado vira um dos principais assuntos
sobre a parte de não ficção no longa-metragem.
A
sexualidade feminina (ainda um tabu social) também é importante destacar,
quando temos cenas da princesa da história se masturbando como parte de sua
rotina, desmitificando a imagem da mulher. “Eu
quis mostrar que Elisa não é uma princesa animada dos contos de fadas" disse
Del Toro sobre a (desnecessária) polêmica causada pelas cenas.

Enquanto
isso, o vilão da história Strickland é um homem branco, hétero e rico que vê a
sua posição como soberana, ele despeja falas machistas, agride o individuo diferente
dele, agindo como o verdadeiro monstro da história.
Como
uma fábula de Del Toro, o final do conto de amor entre sua princesa e a
criatura é digno de fantasia fantástica, transportando o espectador de volta
para a parte fictícia. O filme traz a fórmula clássica e a atmosfera nova,
marcando o cinema, público e registrando mais uma vez, o amor por monstros e
contos de Guilhermo Del Toro.
0 comentários