Moonlight é carregado de sensibilidade e significados sociais

By Isabella Jarrusso - quinta-feira, março 09, 2017



Por Isabella Jarrusso 
Contém Spoilers

O primeiro longa-metragem de Barry Jenkins, o drama Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016) é uma narrativa conduzida por gestos, olhares e frases curtas. Um filme muito sensível sobre as questões sociais, descobertas sobre o mundo para um jovem negro de periferia.

Uma mistura de Boyhood (2014) e também Cidade de Deus (2002), o trama retrata a historia de Chiron, um jovem negro que mora numa periferia de Miami, sua narrativa é separada em três capítulos: A infância, a adolescência e vida adulta. O filme segue uma linha que mostra do bullying que sofria na infância por ser alguém introspectivo, passando pela crise de identidade da adolescência e a escolha do universo do trafico de drogas.

Na infância, o personagem tem o apelido de Little (Alex R. Hibbert). Ele conhece Teresa (Janelle Monáe) e seu namorado Juan (Mahershala Ali), um traficante de drogas, que além da aparência durona, era bondoso. Os dois tiveram por um tempo uma relação de pai e filho, alguém que ensinou algumas coisas da vida, como ensinar a nadar até assunto mais sérios como a orientação sexual, e nunca sentir insegurança sobre isso, pois eles deixam claro para Chiron, que ser homossexual nunca será algo errado.  Essa relação foi importante para o menino, que em casa tem problemas com a mãe Paula (Naomie Harris) que é usuária de drogas, e tem um temperamento instável.

Mahershala Ali que vem chamando a atenção de uns tempos pra cá, faz com que seu personagem seja amado. O diálogo da historia "Sob a luz do luar, os garotos negros ficam azuis", já virou um dos momentos mais emblemáticos do filme . Já outra que marca é Naomie Harris, que protagoniza a mãe viciada em crack, ela vai se transformando durante o filme, com cenas fortes e carregado de diálogos emocionais.



A adolescência, a segunda parte do filme, foca nas descobertas e problemas pessoais. A mãe dele aparece com uma aparência pior que antes, cada vez mais se afastando do próprio filho. Chiron continua sendo um menino muito tímido, que só tem um amigo desde a infância, o Kevin (Jharrel Jerome), que começa a ganhar importância na vida do protagonista, quando os dois exploram o corpo um do outro, e os novos sentimentos que Chiron começa a sentir por seu amigo.

A fotografia do filme é de James Laxton, e é hipnotizante, consegue deixar o filme com uma visão ainda mais bonita. São cores quentes e em tons neon. O filme muitas vezes silencioso faz com que a iluminação e imagem sejam muito importante para a narrativa das cenas, o que acontece perfeitamente.


A última parte, vemos o futuro de Chiron, que agora é conhecido como Black (Trevante Rhodes) é um homem totalmente inesperado do que se espera ao assistir as duas partes do filme. Black foi preso, como a maioria dos meninos de seu bairro, e foi algo que o fez mudar um pouco o que era. Ele escolheu ser alguém que não sofreria mais, alguém que as pessoas teriam respeito, e não o zombariam. Ele se espelhou na sua única figura paterna: Juan. Ou seja, ele virou traficante, a mesma cara de durão, mas que no fundo continua o pequeno Chiron.


A questão explorada na última fase do filme é a sexualidade de Black, ele aparenta ter uma vida de poder. Mas o que se descobre que ele pode ter dinheiro, mas continua tão reservado como antes. Ele ainda é tímido, se perdeu no tempo e não se permitiu sentir e descobrir sua sexualidade.
Ele reencontra Kevin, que também é ex-presidiário, mas escolheu uma vida mais “honesta”, virou cozinheiro de uma lanchonete. É interessante a tensão desse encontro dos dois, cada movimento e gesto parecem decisivos para Black, que se pega ainda sentindo algo forte por seu amigo de infância. A última cena são os dois na casa de Kevin, e é o momento que Chiron se entrega, fala finalmente o que sente  e o que passou por todos esses anos. São diálogos longos e que dão alívio para quem assiste. Foi um respiro do personagem que se escondeu a vida inteira, estar ali com a única pessoa que ele permitiu ser tocado, o único que realmente soube que ele era.

Um filme sensível sobre a descoberta de si próprio. Uma análise de minorias, sobre o que é ser uma pessoa negra, gay e periférica num mundo tão intolerante, onde o preconceito se triplica e muitas são as escolhas para o seu destino. 

Nota:



Excelente!

  • Share:

TAMBÉM RECOMENDAMOS

0 comentários