Hell Or High Water: O faroeste que retrata a revolta da sociedade contemporânea

By Isabella Jarrusso - sexta-feira, fevereiro 24, 2017


Por Raphael Taets e Isabella Jarrusso


Contém Spoilers

Indicado ao Oscar de melhor filme, Hell Or High Water (David Mackenzie, 2016), no Brasil, com o título A Qualquer Custo, é um drama neo-western que se passa na região circundante de Oklahoma, Texas, e critica a forma predatória como os bancos extorquem os cidadãos americanos do meio-oeste do país, sempre em busca de maiores lucros. Esta mensagem fica evidente em diversas passagens do longa através de outdoors que prometem “dinheiro rápido quando você precisa” e “renegociação de dívidas”, além de falas e comentários, como o de um velho que afirma ao xerife que “assistiu ao assalto do banco que o rouba há trinta anos”.

A partir desta temática, a trama gira em torno de Toby Howard (Chris Pine), divorciado e pai de dois garotos, que precisa pagar uma dívida com o Texas Midlands Bank em poucos dias sob o risco de perder o rancho deixado como herança de sua mãe para os netos. Para piorar a situação, o banco passou a ter interesse maior nestas terras por conta da descoberta recente de uma reserva de petróleo. 

Ele, então, passa a planejar e assaltar agências desta mesma rede, junto a seu irmão mais velho, Tanner (Ben Foster), para quitar o valor abusivo utilizando o próprio dinheiro roubado, lesando o banco duplamente. Por entender que funcionários e clientes do banco não têm nada a ver com isso, Toby escolhe horários de menor movimento para agir, evitando que haja inocentes feridos.

Tanner, no entanto, é explosivo, impulsivo e inconsequente, e durante o primeiro assalto do filme, desfere um soco no rosto do banqueiro – figura que, sim, tem culpa do sofrimento dos cidadãos, lesados a todo o momento pelas instituições financeiras. Este ato nos remete à temática maior do longa, simbolizando um revide da sociedade, cansada de ser explorada por aqueles que possuem capital.

Após os dois primeiros assaltos serem comunicados à delegaciaos policiais que ficam responsáveis pelo caso são o xerife Marcus Hamilton (Jeff Bridges), típico texano estereotipado, com seu chapéu de cowboy e óculos escuros, ar de superioridade e um almanaque de piadas xenofóbicas, desferidas a todo o momento a seu assistente, Alberto Parker (Gil Birmingham), que por sua vez é descendente de indígenas e mexicanos, pacífico e um pouco viciado em “suspeitos drogados”. O primeiro está prestes a se aposentar, enquanto o segundo não vê a hora de isso acontecer.



Ainda com relação à crítica às instituições financeiras, adupla de policiaisenquanto aguarda o próximo passo dos criminosos, trava um dos melhores diálogos do filme, quando Parker fala para o parceiro que seus antepassados eram os donos de todas aquelas terras, até que os homens brancos vieram, tomaram tudo para si e passaram a explorar os nativos. Agora, “são os bancos que se apropriaram de tudo e exploram todo e qualquer americano em prol de seu enriquecimento particular.

Apesar disso, a dupla de policiais é, por muitas vezes, responsável pelos momentos mais bem humorados do filme, acrescentados à trama na medida correta. A cena da lanchonete, em que eles são atendidos por uma garçonete velha e grossa, interpretada por Margaret Bowman, é cômica por conta da maneira autoritária como ela dita o pedido da dupla, numa clara inversão de papéis que deixa os policiais perplexos. E apesar das brincadeiras de caráter duvidoso entre o xerife e seu assistente, fica claro que ele age muito mais como um grande “tiozão do pavê”, e não como alguém que realmente detesta outras raças – a amizade entre eles é um pouco mais explorada no decorrer do filme.

A fotografia é repleta com os ambientes secos e quentes, típicos da região texana. Os tons amarelados, acompanhado pela magnífica trilha sonora realizada pelo músico Nick Cave, mistura o Country e o Rock alternativo americano, criando uma atmosfera de faroeste urbano ainda com aquele pé em suas raízes da antiga Texas.

A trama se desenvolve e toma um caminho sombrio quando, num assalto mal sucedido, Tanner é obrigado a matar o segurança de um banco e um cliente, após ambos atirarem e quase matarem ele e Toby (que foi baleado no tiroteio). A partir daí, a dupla de criminosos passa a ser perseguida por civis e policiais até o momento em que se separam numa estrada (Tanner desce do carro no melhor estilo Al Pacino “Say hello to my little friend” e sai despejando balas nos civis).



O longa chega ao final com uma cena chocante onde Tanner acerta a cabeça de Parker, que morre na hora, e nos deixa desolados com a frieza da cena. O desolado e enfurecido, Hamilton pega carona com um civil para dar a volta na montanha e matar Tanner, o xerife mata o irmão de Toby com um tiro na mesma região da cabeça que Parker foi acertado – fica claro aqui o lema “olho por olho, dente por dente”.

Hell Or High Water é uma temática de western com os problemas dos novos tempos. A história carrega o que acontece no cotidiano das pessoas que são vitimas do sistema financeiro. O resultado da revolta do homem sem poder é roubar aquele que os roubou. 


Nota:

Excelente!

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