A genialidade excêntrica de Capote

By Isabella Jarrusso - sábado, julho 23, 2016




Contém Spoilers

O filme Capote (2005), com direção de Bennett Miller explora um período da vida do escritor Truman Capote (Philip Seymour Hoffman) em que elaborou a sua obra A Sangue Frio, ou seja, entre os anos de 1959 a 1966. O longa tem um roteiro que aborda esses anos conturbados, em que tornaria Capote em um dos pioneiros dos livros de não ficção.
A Sangue Frio é baseado em um assassinato real, o da família Clutter, que foram mortos por dois rapazes, na pequena cidade de Holcomb, Kansas. O filme vai percorrer desde o início em que Capote decide escrever, sobre o assassinato até o desfecho da sentença dos culpados pela chacina.

O processo de criação de Capote coloca a obra literária como um fundo, para explorar uma profunda análise sobre a persona de Truman Capote, aproveitando a oportunidade para dissecar a figura do homem por trás da escrita e das polêmicas, que o tornaram famoso por sua excentricidade, seu forte poder de manipulação e o seu grande egocentrismo. Além do fato de ser abertamente homossexual, em uma época de grande opressão da sexualidade e gênero.

Philip Seymour Hoffman não só revive a figura de Capote nas telas, mas se torna o próprio. As nuances, os movimentos, a voz fina, tudo é impecavelmente calibrado pelo ator, para alcançar o máximo possível de naturalidade, algo que ele conseguiu transmitir de forma perfeita. Hoffman mostrou sua versatilidade, ao fazer um trabalho que se tornou uma das maiores performances do cinema contemporâneo.


Durante o longa, Capote se entrega ao caso da família Clutter, ele começa a investigar o lado sombrio da historia, ao conversar com os autores do crime na prisão. O que faz essa historia tão curiosa, seria o envolvimento do escritor com um dos autores do crime, Perry Smith (Clifton Collins Jr) quando começa a se identificar com ele, por causa da difícil infância e pensamentos parecidos.

De início, a aproximação com os criminosos, por parte do escritor, deve-se ao puro interesse em obter informações poderosas para seu livro. No entanto, fica evidente que ao conhecer mais a historia dos irmãos, particularmente a de Perry, vai construindo uma relação estranhamente íntima com os responsáveis pela chacina vê-se preso numa série de dilemas, onde a empatia com os jovens assassinos se choca com seus interesses pessoais sobre o caso.

O diretor Bennett Miller, cria um filme complexo e silencioso, onde não temos certeza do que se passa pela mente de Truman.  A fotografia tem uma atmosfera fria e sombria, mostram imagens como palavras, que não são ditas, mas compreendidas pelo olhar.
Miller apresenta seus personagens em dilemas, onde os limites morais são postos à prova até o final do filme, mas sem julgamentos do diretor, que tem como única proposta, mostrar a vida de Capote de uma maneira absurdamente realista, sobre esse específico e delicado período.

O livro mudou a vida de Capote de maneira boa e ruim. A parte boa da criação de sua obra foi que ajudou a consolidar o New Journalism, que estava bem crescente na época. O New Journalism seria uma investigação acurada da mídia misturada com literatura. Sem Truman Capote, não haveria inúmeros outros autores importantes para a não ficção, mas nenhum conseguiu a genialidade de como Capote fazia seu trabalho. Já a parte ruim, foi o processo degradante que a investigação do caso fez com ele, pois a arte influenciou na sua realidade.


Ao final do filme, analisa-se um Capote em conflito consigo mesmo, onde a finalização de sua obra não lhe traz nenhuma felicidade, seu relacionamento com amigos e seu companheiro ficam distantes, e o seu sucesso agora lhe soam como algo dispensável, diante do processo pelo qual passou. A cena final de Capote continua com a atmosfera fria, mostrando o personagem observando o vazio, exemplificando a desconstrução que sofreu.

  • Share:

TAMBÉM RECOMENDAMOS

0 comentários