O genial filme comteporâneo brasileiro, Praia do Futuro

By Isabella Jarrusso - quarta-feira, maio 14, 2014


Contém Spoilers
          
Já passei por grandes momentos na minha vida e um desses aconteceu nessa segunda-feira: a chance de assistir a pré-estreia de um filme nacional Praia do Futuro (2014). Depois do fim da sessão, ainda tive o privilégio de presenciar um debate com o diretor Karim Aïnouz e a produtora Geórgia Costa Araújo. Em relação ao filme, achei a história linda, sensível, tocante e com uma trilha sonora genial. Ouvir diretamente do diretor como foi todo o processo de gravação e entender mais da arte que é esse filme, foi algo único. 

Em três capítulos, o filme trata da história do cearense Donato (Wagner Moura), um salva-vidas da Praia do Futuro, que um dia resgatou de um afogamento Konrad (Clemens Schick), um motoqueiro e turista alemão. Depois disso, surge um grande amor entre os dois. Donato viaja à Berlim para ficar com Konrad e decide não voltar, deixando seu irmão mais novo Ayrton (Jesuita Barbosa) e o resto de sua família em Fortaleza. 

Segundo Karim, no último capítulo, Donato já está morando em Berlim há 10 anos, Ayrton vai para a cidade atrás do irmão que desapareceu por tantos anos.

O Diretor Karim Aïnouz disse que foi feito associações poéticas entre esses dois lugares, uma das relações é que mesmo Berlim não tendo uma praia, foi gravado uma das mais bonitas cenas do filme, em uma praia do Norte da Alemanha. O interessante é que nessa praia quase não tem água, pois o mar recua durante alguns momentos do dia.

A  relação com a Praia do Futuro é que se trata de uma lugar seco e frio, principalmente no inverno. Outra relação feita por Karim - que eu particularmente achei genial- é esses dois irmãos que se separam por anos e depois se reencontram, o que aconteceu com a própria cidade de Berlim que foi dividida e depois do muro ser derrubado as pessoas se reencontraram. Outro ponto é sobre os simbolismos do filme, que segundo o diretor, ele queria muito fazer um filme que fosse aberto para pensar no seu significado, fazer as pessoas tirarem suas conclusões sobre algumas cenas, para ser mais clara, usar a imaginação. 




Nem todas as cenas foram roteirizadas, como uma em especial, que foi  feita em um grande aquário na Alemanha, onde vemos o personagem Donato no seu novo emprego, limpando o aquário, de água salgada como o mar - criando uma outra relação entre as duas cidades-.
        
O processo criativo do Diretor vai muito a partir da questão visual, ele vai juntando fotografias e fazendo um acervo e assim criando história com isso. Uma frase durante o debate que achei sensacional foi quando ele disse: “Eu não gosto de escrever, a minha caneta é a fotografia”.

Sobre a fotografia (linda, por sinal) de “Praia do Futuro”, o responsável foi Ali Olay Gözkaya , um turco que foi criado na Alemanha e ele trabalhou muito com longas e comerciais grandes, “Foi complicado trabalhar com ele (...). Sou muito ansioso quero pegar muitos planos, enquanto ele tinha tudo bem organizado. É uma fotografia bonita, e não é uma fotografia vaidosa por ela mesma”, disse Karim Aïnouz. 

 Achei o filme bem artístico e com cenas silenciosas, mas com uma beleza de olhares e química dos atores, são poucos diálogos e algo mais visual. Karim comenta sobre isso, “Mas não é isso que é cinema? A natureza do cinema que me encanta, é o cinema mais de clima e talvez tenha mais silêncio, mas eu acho esse filme é até barulhento (risos). Donato não consegue dar conta de dizer nada, como dizer ‘Eu te amo’, ele é um personagem que sabe se expressar fisicamente. É quase um vulcão que nunca entra em erupção. O charme do cinema não é a fala, é algo que te faz sonhar, delirar”

Quando perguntado sobre qual o gênero do filme, Karim com seu humor e simplicidade, disse achar que é um melodrama -fazendo todos da sala de cinema rirem-, “Tem um flerte com outros gêneros, ele tem elementos gramáticos muito fortes, ele flerta com um filme de ação, musical, ele não é só drama, é um melodrama. Tem um suspense, sobre o que acontecerá com o personagem em alguns momentos de tensão. Tem um poder de chegar nas pessoas.” 

O filme tem cenas lindas com o afeto entre os personagens, Korand tem um olhar que faz Donato "Mergulhar em seus olhos azuis e se perde lá dentro" como Karim citou durante o debate.
Lindas são as cenas dos beijos, do sexo e a diversão dos dois que cantam e dançam juntos. E em relação a dança, achei interessante e algo único de Karim, disse que jamais faria um filme se não tivesse alguém dançando, ele fica emocionado com isso.

 Acho que o personagem Donato em relação ao homoafetividade, me pareceu que não está tão confortável, ele precisava ter uma nova vida. Mas a questão não é só porque ele é gay e por isso que vai embora. Ele vai para outro ambiente, vai para outro lugar, ele aproveita para ter outra vida e 10 anos depois muita coisa mudou, ele aprendeu coisas novas, vive outras experiências.

 E sobre isso Karim acha importante falar do masculino, do medo e como o mundo mudou o olhar sobre o homossexual em um século. Então creio que é uma ótima dica para quem gosta de ir ao cinema e assistir  um bom filme, ainda mais quando é um bom filme nacional. Espero sinceramente que na estréia que acontece em 15 de maio de 2014 (Quinta-feira), seja um grande sucesso e que tenha muito amor entre as pessoas pelo filme.



 Por Isabella Jarrusso - 14/05/14

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